Não era pra me deixar.

Deixa eu te dizer umas coisas... Deixa eu te fazer um carinho. 

Me deixa, que eu te deixo.  D-E-I-X-A-R... Acho que você entendeu o significado do verbo :  

deixar

dei-xar

v.t.Largar, soltar; pôr de lado.   Ás vezes a Língua Portuguesa, atrapalha um bucado ...

Era pra você me deixar, mas não de lado, era pra me permitir. Me deixar ser sua e não precisar ser de mais ninguém.

Só me deixar ser louca sem reclames e plim-plim, me deixar ser carinhosa até as tampas em dias de sol e geladinha nos dias de inverno, porque eu sou assim, movida a tudo que está em minha volta. E quando você estava por perto, me fazia ser melhor. Se você tivesse deixado, nós seriamos tanta coisa agora. Seriamos nós dois contra o mundo, o que seria uma dupla de heróis do cacete, com  o perdão da palavra. Seriamos capazes de levar vida as pessoas, você com suas graças e eu com as gargalhadas. Tocávamos o universo, em sua mais profunda imensidão, quando nos tocávamos. Admita.
E isso em nós é que era bom, quando juntos, éramos únicos e ninguém em orbita alguma, seria capaz de superar nossa sintonia e nosso tesão.  Tesão pela vida, pelo futebol no domingo e nos passeios beirando a madrugada. Tesão nas nossas ideologias compartilhadas e sonhos que se completavam. 
Pedi pra você deixar de ser menino e enfrentar essa pseudo-maturidade que chega pelo correio aos homens no auge dos vinte anos, pedi mesmo. Queria que deixasse seus amigos, ou pelo menos um pouco. Que deixasse de ser tão bibelô, para ser guerreiro de luta, ao meu lado. 
 E então você deixou. 
Me deixou a beira do caminho, sem te entender e sem o direito de me explicar. Era só ter deixado o universo nos transformar e nos fazer pessoas melhores.
Mas essa cabeça dura que não muda, deixou... Deixou tudo de lado. E mais que isso, deixou meu coração em pedacinhos. Mas essa infelicidade momentânea de perder uma paixão não é nada, ela passa.
Quer saber o que não passa ? O que não me deixa viver em paz? 
A dor de perder um amor, e não ''um'' e sim ''o'', o amor. O meu amor.
 Não sei, se não te deixei ser como seria para o resto da vida, não sei, se não me permiti ser uma eterna menina em suas aventuras...  Eu não sei.
Sei que você não me entendeu, mas eu também não te entendi.

Talvez não deixássemos de ser nada e com os defeitos fomos tudo, uma veia grossa, ajudando a pulsar o coração do mundo. Nós juntos éramos o  bem, a felicidade, a força e a fé.  Me arrependo e essa é a única coisa cuja qual me arrependo na vida; ter deixado de ser, toda essa beleza que podia ser contemplada quando eu era do seu lado. Ter deixado de ser seu amor e sentir todo amor do mundo. 
Se eu pudesse voltar atrás, nunca teria pedido nada, aliás teria sim, teria pedido pra me deixar  dormir mais um pouquinho no sábado de madrugada.  E só isso.
Sem deixar nada e deixando ser e (de ser) aos pouquinhos.