Aborto espontâneo

Ontem fui dormir, com uma vontade enorme de nunca mais acordar.
Levantei, depois de longas horas, na companhia de pesadelos terríveis.
Semana de provas, emprego. Dor de cabeça, melhor amigo que mora longe. Namorado desligado, mãe megera, chefes mandonas, pai desatento... Felicidade escapando entre os dedos. Olhares indiscretos, que julgam. Lançam as ventos minha imaturidade, impaciência e meus medos.
Foi então que passei a me sentir assim, abortada. Desolada. Sem casa, sem sonhos, sem vontades. A ferida que aqui estava quase cicatrizada, voltou a doer. Intensamente.
E eu não vejo ninguém para enxugar tantas lágrimas, e muito menos que saiba dos meus motivos.
Tanta gente a minha volta, estou tão sozinha. Não há luz do fim do caminho e a calmaria que rondava minha alma voou. Talvez tanta dor, tenha resultado deste meu jeito, de levar tudo a ferro e fogo. Essa minha mania de sempre saciar as minhas vontades.
Agora eu entendo, acho que posso ver o brilho da solução ... é espontâneo, é o que me parece certo a fazer.

Menina, mulher. Mulher... menina (?)

Tem horas que eu me odeio. Tem horas em que eu te odeio. Tem horas, que eu já nem sei mais. Não sei de mim, não sei do amor. Não entendo como é isso de ser frágil... Não me lembro nada, de como é ser forte.
Sou apenas eu, eu mesma. Aquela menina que existia antes de te conhecer. Aquela mesma, que não implorava por carinhos, ou por simples beijos. Sei que você não sabe.. ao menos suspeita.. Mas as vezes quando eu te olho, eu não enxergo você. Vejo deitado ao meu lado, um estranho. Com manias insuportáveis. Uma petulância desagradável e um humor terrível. Fecho meus olhos, e mentalizo, o meu garoto de volta. As vezes demora, até nos encontrarmos na mesma orbita. Outras e raras ocasiões .. Em que somos o casal mais lindo do mundo, e seu sorriso me encanta. Hoje como há muito tempo não fazia, você me beijou com ternura. Me fez subir ao céu, fez com que eu me sentisse escolhida de novo. Olhou nos meus olhos, enumerou meus defeitos, riu do meu jeitinho de falar, fez piada, disse eu te amo. As três palavras magicas, ditas assim com essa naturalidade. Então, rapidamente percebo seu susto, me encolho na cama. Não quero chorar, não posso chorar. Assim você irá perceber que já há muito tempo, não me dizia isto. Fico calada. Você me junta ao teu peito, cola meu ouvido no seu coração e diz : Gosto especialmente de você, minha menina. Sorri e diz que precisa ir pra casa.
Meu olhar tão iluminado aos poucos esvaecesse no ar. Você disse, menina. ' Você é a menininha da minha vida '. Faço de mim moradas de sentimentos bons, envelheço, amadureço. Faça o impossível para me adaptar ao seu jeito de pai.. E isto é tudo o que eu recebo. Não quero cuidado. Eu quero amor. Só amor e mais nada. Quero que me diga, hei mulher de você só quero amor. Suplico para que não me faça sentir como uma fracassada, a única coisa que sei fazer é te amar... e nem isso eu faço muito bem.
Pedir para me amar inteira, com minhas crises, indecisões e com minha falta de paciência é pedir demais ? Me amar assim, feito mulher.. Não dá ?
Você se levanta, pede desculpa, por algo que nem faz idéia do que seja, apaga a luz, fecha a porta e se vai. Assim como todos os outros, que me acham menina. Fecham a porta e se vão sem olhar para trás. E me deixam assim, confusa. Com o coração partido, escrevendo em diários secretos. Assim, desse jeito que não se explica.
Nem fraca, nem forte. Desse jeito que sou. Menina.
Menina com aquela mania de correr na chuva, que tanto te encantava. O jeito de comer chocolate escondida embaixo do cobertor, de amarrar o cabelo como a Pedrita e usar roupas da Disney. Assistir desenho até de madrugada e sorrir com a sua boca lambuzada de sorvete. Aquele jeito que acreditei que você se apaixonou. O jeito que eu mudei, para te fazer feliz.


Conto os segundos, para me tornar sua mulher.

Dengo seu...

Odeio o fato de adorar exatamente tudo que existe dentro de você. Convivo com isto há anos. Odeio amar até seus defeitos. Odeio o efeito que seus erros me causam. É pior que um copo de bebida, chega a ser pior que café gelado.
Odeio seu sorriso encantador. Este mesmo que traz os sonhos de minha juventude a tona. Odeio sentir meu coração disparar toda vez que estou ao seu lado. Me tornei uma mulher, e ainda sinto tremores ao te ver por ai, pelas ruas de nossa pacata cidade. Entre tantas coisas que eu odeio, algumas até me irritam, como esta sua mania de sempre ser o mais lindo da festa, o mais galanteador. O mesmo que é capaz de seduzir todas as outras, deixa-las derretidas por você e me despertar ciúmes. Posso dizer algo mais, sinto seus perfumes quase sempre. Fecho os olhos e me transporto para perto de você, apenas para ouvir sua doce voz.
Odeio como me faz queimar a boca, quando me prepara um brigadeiro. Me irrita o modo como sabe me deixar envergonhada com um elogio. Odeio quando faz minhas bochechas corarem, me irrita quando aparece de surpresa, como se nada tivesse acontecido, e me enche de beijo. Odeio essa saudade de um dengo seu.
Tudo isso me causa um grande mal. A gente nunca se encontra, mas a gente se vê não é isso ? Odeio sair de casa, sem saber se você vai estar lá... E se vai, será que vai olhar pra mim ? Odeio com todas as minhas forças, o amor inabalável que sinto por você. Se eu pudesse fazer um pedido, seria este apaga-lo de todas as minhas memórias, de todos os meus sonhos.
Tudo é triste. Tudo me causa dor. Mas nada supera, isso de não poder ficar junto de você. Na verdade isso é o que é o mais me irrita, mais me causa feridas, me faz derrubar lágrimas.. é o que eu mais odeio. Isso me machuca.
Seu jeito de ocupar toda a cama e roncar quase sempre, nem se compara amor.
Já faz tempo que estou pedindo, eu diria implorando... Vem tomar este corpo que é seu, vem cuidar desse coração que é inteiramente seu.
Não temos mais tempo para perder. Sei que tomamos rumos diferentes, mas eu tenho a certeza de que tudo pode dar certo. Será que eu não tenho o direito de saber qual é o rumo do seu coração ?

Eu te amo como da primeira vez, te amo como uma menina frágil.
Te desejo como uma mulher, sinto falta do nosso sexo.