E foi então na pausa para o cafe que eu percebi que não preciso ter nada, para ter tudo.
Tudo era você e isso eu tinha ao alcance das mãos, ou já tive pelo menos uma vez na vida, não o tempo todo e de forma alguma ; pois isso seria anular o que você tem de mais bonito, que é esse teu jeito de : 'ninguém manda em mim.' Porque você sabe, melhor que ninguém, não da pra ser lindo fofo e real ao mesmo tempo. Uma coisa atrapalha a outra e você era a pura perfeição.
Não diga, outra vez, que estou imitando o jeito de escrever de autoras que você gosta, é só questão de afeto e agrado. Questão de te afetar e te agradar.
Tá fazendo uns quarenta graus la fora e eu to sentindo calafrios, talvez seja por escrever sobre você... Ou ainda, por essa ser a ultima vez em que vou escrever pra você.
Vejo nós dois como as bolinhas do refrigerante, tão densas e inatingíveis, capazes de dar sabor a qualquer bebida. Porém a cada gole, elas vão desaparecendo e involuntariamente o refrigerante se torna sem graça.
Talvez foi o que a vida fez conosco ou nós fizemos com a vida, bebemos demais.
Com pressa, sem admiração, não degustamos as coisas mais lindas que ela tinha para nos oferecer, apenas engolimos como se aquele copo fosse a ultima dose de amor existente no mundo. E talvez fosse... E nós não soubemos apreciar.
E foi na pausa para o cafezinho, em nossa cafeteria preferida, que tive noção disso tudo.
A atendente loirinha charmosa, que vive dando em cima de você, abriu um sorriso amarelo dizendo :
'' São duas cocas, um café preto e o chocolate de sempre ? ''
Após aquele disparate, sem carinho algum, eu chorei desesperadamente, como se ela tivesse me roubado o ultimo sopro de vida. Quem não sabia que nós havíamos rompido? O porteiro do prédio soubera, o sindico sabia, até o meu chefe soube. E ele ainda me disse, use mais este romance fracassado. Você é boa em transformar seus dramas em inspiração.
' Não, querida. ' Não seriam mais duas cocas, um café pra ser bebido em dois goles e um chocolate dividido milimetricamente por dois chocólatras.
Agora seria tudo meu. E tudo meu, não tinha graça.
Pedi a ela que embrulhasse todos os chocolates, me fizesse litros de café e me vendesse todas as suas
coca-colas. Fui até ao caixa e paguei com o cartão, se pagasse com dinheiro vivo, teria desistido da idéia medíocre de te eternizar em mim. Todos me olhavam assustados, porém nenhum deles, estava mais assustado do que eu mesma, quando me vi sem você. Carregamos juntas as coisas até o carro.
Ela bateu a porta e na mesma fração de segundos eu pude perceber... O tudo, era nada sem você.
E agora nós eramos nada, sem as bolinhas, sem o gás, sem o amor, sem a vida.
Sem a vida que dedicamos um ao outro em meio a tantos goles secos e deturpados.
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